Mas também aí me deparei com outra dificuldade. Oh, eu sei, leitor, sei bem que o que estou a narrar é um grande amontoado de infortúnios, mas talvez minha experiência seja capaz de fornecer a quem lê algum tipo de auxílio e, se minhas desventuras servirem para que alguém possa ter uma vida mais proveitosa, então agarro esse meu destino com a mesmo força e resiliência com que tenho vivido minha vida, com altivez acima de tudo.

Ter abandonado a escola aos dezessete anos me custava caro agora, pois precisava ao menos ter concluído o curso secundário para poder entrar no conservatório, era requisito fundamental.

Meu cunhado, e me dói admitir que haja entre nós esse parentesco, tentou me convencer a terminar os estudos através do programa de governo para alfabetização de jovens e adultos. Isso era ultrajante. Eu, que já tinha sido até candidato a vereador e por muito pouco não fui candidato a prefeito, ia ter de me sujeitar a estudar com analfabetos? Ele só queria me humilhar.

Novamente mantive o braço firme. Não deixei que guiassem meu caminho. Não fui aceito na minha antiga escola, mas uma amiga da minha mãe me conseguiu garantir uma vaga numa escola pública, para estudar no turno da noite.

É estranho como muitas vezes são as pessoas mais jovens que conseguem reconhecer valor naquilo que está diante deles. Foi o ano mais feliz da minha vida, e diferentemente da primeira vez, agora eu era não só admirado e respeitado, como também era o preferido das mulheres, o que me fez ver, pela primeira vez na vida, o quão charmoso e, bom, se posso dizer isso sem modéstia, conquistador eu era.

Precisava apenas do terceiro ano, e por muito pouco eu não repeti de ano. Minha mãe e minha irmã achavam que era porque eu não conseguia mais me lembrar das matérias, mas a verdade é que eu quase me convenci a repetir de propósito, só para poder viver mais um daquele ano incrível.

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