Estrelas da Tarde



    Pág. 52 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

atrás, mas assim são as coisas. Perdemos, e hoje você está me perdendo, talvez para sempre.

Ela com certeza fora tocada pelo meu discurso, era um resquício de minha época como político, eu sabia falar. Permaneceu de boca aberta na minha frente por algum tempo. Não sabia o que dizer ou talvez precisasse mesmo de alguns segundos para compreender o que eu estava dizendo.

— Não dá para ver estrelas à tarde! — Ela por fim falou, em completo e absoluto estado de negação, e se virou na direção do carro.

— Ei — a chamei — estou sem dinheiro pra passagem — o pedido me saiu com dificuldade, mas o que eu poderia fazer? Não havia dinheiro suficiente para a passagem, ao menos achava que não, e na verdade, nem mesmo queria ter ido até aquela cidade, o mínimo que poderiam fazer era pagar minha passagem de volta, ainda mais depois de terem me tratado daquela forma.

Ela riu, tirando escárnio da minha cara, “o fruto não cai muito longe da árvore” pensei, percebendo que a cara que ela fez era muito similar a cara que a mãe manteve para mim o tempo todo, com sarcasmo e ironia não suficientemente velados.

Ela foi até o pai e pediu o dinheiro. Ele entregou, olhando para mim, e quanto mais ele me olhava, mais eu erguia o queixo, altivo.

— Toma — ela disse, erguendo à distância a mão para mim. Eu peguei o dinheiro e a vi entrar com pressa no carro e os dois saíram dali, me deixando só num lugar completamente desconhecido, não tiveram nem a decência de aguardar até que eu tivesse pegado o ônibus. Qualquer coisa poderia ali ter me acontecido, mas era como se eles nem mesmo ligassem, só foram embora, deixando-me para trás.

Os duzentos que o pai dela me dera foram suficientes para a passagem e para o lanche, mas não dera para pagar o táxi até minha casa, e


       
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