Estrelas da Tarde



    Pág. 51 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

psicológico com seu agressor, ainda mais quando este é alguém da família —, primeiro, eu quero que você saiba que nada disso é culpa sua...

— Você é perturbado!

— Amor, eu sei o que vivemos, e olha... Ainda há muito para nós. O destino nos reuniu e — apontei para o céu —, como as estrelas da tarde, ‘inimovíveis’1, nosso amor está escrito na face dos deuses, desde o princípio de tudo. Não deixe acabar por esse... essa coisa da qual foi vítima que eu... eu nem ouso dizer em voz alta...

— Do que caralhos você tá falando, Frederico? Aliás, seu nome é mesmo Frederico?

— É. É claro que sim.

— Minha mãe ligou para o conservatório. Você não é professor!

— Por que ela ligou?

— Como assim por que? Você nunca ia embora! Até forçou uma situação para me fazer te trazer até aqui! Você é maluco!

Eu fiquei catatônico, verdadeiramente perplexo. A dor dela, seu trauma, era tão profundo que ela chegava mesmo a modificar a realidade de forma que coubesse melhor a uma narrativa dos fatos que lhe fosse mais conveniente ou menos dolorosa.

— Tá bom — eu quase chorei. — Se é assim que você prefere acreditar que as coisas aconteceram... Mas, quando olhar para o céu, e quando vir as estrelas da tarde, acredite — não consegui mais, rebentei em choro —, você vai me encontrar, porque eu, nosso amor, vai ficar para sempre lá em cima, onde ninguém pode encontrá-lo. E um dia, quando estiver bem velhinha, vais se lembrar da sua covardia deste momento e quererá voltar

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1 Inamovíveis


       
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