Estrelas da Tarde



    Pág. 50 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

desconfiança para com ela estava em tal nível que eu até cheguei a suspeitar que eles dois estivessem querendo arrancar o carro assim que eu descesse.

Pelos olhares que os dois trocaram dentro do carro, nestes segundos em que eu esperei que ela descesse primeiro, como um raio fui fulminado por uma verdade que até então nem mesmo tinha cogitado: era possível que o pai estivesse a abusar dela.

Meu Deus, arrepiei o corpo inteiro só de pensar naquilo. O que na verdade explicava tudo, desde a maneira como eu havia sido recebido até a forma como ela ficava perto dele. Era possível até que toda a família fosse conivente com o abuso...

Mais do que nunca senti a necessidade, quase a obrigação moral e divina, de resgatar aquela princesa das garras daquela família, que, até então eu cogitava ser parecida com a minha própria, mas agora eu descobria que se tratava, não de outra coisa, mas de uma família de monstros. Verdadeiros criminosos.

Nos encontramos na frente do carro, sob os olhares fixos, impacientes e ciumentos do pai possessivo dela, eu me aproximei com os olhos marejados, procurando compreender a dor dela.

Débora mantinha cruzados os braços e até chegou a recuar quando me aproximei um pouco mais. Com certeza devia temer a reação tresloucada do pai, no caso de nos ver tocando um ao outro. Ela estava desesperada, era nítido que implorava por socorro, vítima de uma situação que nem as piores mentes poderiam conceber, sabe-se lá desde quando aquilo não estivesse acontecendo.

— Podemos ir à polícia — eu sussurrei, virando de costas para o carro.

— É o quê? — Ela respondeu, dando um passo para trás.

— Débora — eu continuei, sabendo que nesse tipo de situação, o melhor era ir bem devagar, pois a vítima costuma construir um forte laço


       
Início     ESTRELAS DA TARDE     Final       Pág. 50



Rodapé - Alexandre Campanha - TDAH e Autismo em Cordel