Estrelas da Tarde



    Pág. 17 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

pescoço, deixando em evidência as veias, eu era invadido por um calor que me consumia. Eu a queria, de tudo da minha vida até aquele instante, isso era o mais certo: eu a queria.

Eu a queria. Era isso o que eu sabia. E devia tê-la para mim.

Em alguns poucos minutos, aquilo que era um ensaio logo terminou e começaria a primeira de suas aulas. Eu obviamente me levantei e por pouco não me contive em aplaudir, nem tanto a música, ou a execução, mas a performance em si, e eu pude notar que ela havia me observado e visto com certa curiosidade quando eu me pus de costas e saí da sala.

Naquele mesmo dia, e essa é outra das minhas características mais notáveis, a procurei à saída e a encontrei sem muita dificuldade. Estava nos bancos laterais do jardim, ao lado do estacionamento, ajeitava seu instrumento e suas partituras.

— Deseja ajuda? — perguntei, surgindo detrás dela, e escolhendo, para quando ela se virasse, o melhor e mais cativante dos meus sorrisos.

A pobrezinha se virou assustada, inclinada como estava, certamente não esperava ser surpreendida.

— Oh — ela sorriu meio sem jeito. — O..., oi, professor — ela me chamou de professor, na hora não entendi o motivo, mas, e ainda bem que tenho o pensamento muito rápido, compreendi que por ter me visto em sua apresentação e por constatar que eu me retirara logo que a aula começara, além é claro de minhas vestimentas e do porte que mantinha, eu deveria me tratar de um professor naquele observatório, e não de um mero aluno, como ela.

Não posso dizer que eu não tenha sentido um leve toque de orgulho, bem... também eu posso ser presa de sentimentos mesquinhos. Mas ser chamado de professor ao fim das contas nem era de todo um erro, afinal, estava com efeito em meu último trimestre e já mirava a vaga de professor


       
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