Estrelas da Tarde



    Pág. 19 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

de que a pergunta não possui tanta importância ou mesmo que tenha nela alguma intenção não revelada logo de início.

— Débora — ela respondeu, oferecendo a mão ao cumprimento.

Eu parei por alguns segundos, mantendo o cigarro na boca entre os dedos e agora a encarando diretamente nos olhos, pude enfim perceber que eram verdes, o que aumentava ainda mais o meu lamento pela necessidade daqueles óculos.

Propositalmente eu ignorava por segundos sua mão esticada, enquanto deixava que meus olhos falassem por mim, e notava que seu desconforto aumentava.

— Frederico — respondi, segurando a mãozinha delicada e fria dela. Ela parecia tremer, e isso só com um pequeno toque nas mãos. — Mas pode me chamar de Fred — concluí, trazendo-a assim para mais perto de mim com o uso de um apelido, o que torna a relação nascente algo mais pessoal.

— Fred — ela repetiu, sorrindo.

— Está esperando seu pai? — perguntei, apontando para os carros no estacionamento.

— Ah, não... — ela sorriu, e não tentou retirar a mão. — Meu carro tá ali — e nisso devo admitir que de fato fiquei surpreso, ela tinha um carro que deveria valer ao menos uns noventa mil.

Essa nova informação me atingiu feito uma bomba de efeito duplo, porque ao mesmo tempo que ela se tornava ainda mais bela, por uma situação social adequada, também era nítido que ela vinha de uma família muito mais bem posicionada que a minha, afinal, já tinha passado dos meus trinta anos e tive que vender o único carro que tinha tido; deixado pelo meu pai.

Senti um misto de vergonha e decepção, por vir de uma família não apenas menos favorecida como também por ser um órfão, havia muita coisa


       
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