Estrelas da Tarde



    Pág. 21 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

— Nossa, que chato. Quer uma carona? — ela perguntou, apontando lividamente para o seu carro caro, no fundo provavelmente já me condenando e me considerando um pobre coitado.

Balancei o rosto em negativa, me despedindo dela com um movimento de sobrancelhas.

Ela sorriu, quase desencantada e foi na direção do carro.

Não é que eu não queria a carona dela, primeiro porque adoraria chegar em casa mais cedo, e depois porque seria uma excelente oportunidade para manter aquele jogo de conquista, mas a verdade é que eu não saberia explicar o motivo de eu ainda morar com minha mãe.

Esse era talvez o maior dos problemas que eu estava enfrentando em minha vida naquele momento, porque minha mãe, mesmo precisando de cuidados, se recusava a me deixar a casa e ir, ou para uma casa de repouso ou então, como seria natural, ir viver com minha irmã. É algo natural que a mãe quando atinge certa idade vá morar na casa da filha.

Mas o fato é que no mesmo dia ela poderia descobrir que eu não tinha carro e que também morava com minha mãe. Dificilmente eu conseguiria dar um jeito nisso depois.

Foi então que me ocorreu que o inquilino do apartamento de mamãe havia viajado e deixara a chave com ela. Esse inquilino não era grande coisa, mas pelo menos era solteiro e, pelo que eu já tinha visto, tinha um certo bom gosto quanto a mobília. Fui até ela.

— Ei — disse, sorrindo. — A carona ainda tá de pé?

— Tá sim, professor — ela respondeu, enquanto fechava o porta malas, onde punha o instrumento.


       
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