Estrelas da Tarde



    Pág. 22 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

— Tem que tomar cuidado com isso — falei, apontando para o porta malas. — A trepidação pode arruinar as suas cordas. É melhor colocar no banco de trás.

Ela ficou surpresa, mas ao mesmo tempo agradecida, e me obedeceu sem nem mesmo pestanejar, mas dessa vez, é claro, eu a ajudei a mover o instrumento do bagageiro para o banco de trás.

— Eu só vou precisar dar uma passadinha na casa da minha mãe antes — eu falei — então, se tiver com pressa eu vou entender se voltar atrás da carona.

— Não, não. Na verdade, eu meio que não tenho mais nada pra fazer hoje, a não ser arrumar algumas caixas no meu apartamento.

— A quanto tempo se mudou?

— Três dias. Mas ainda não tive tempo de pôr tudo no lugar.

— Entendi. Mas o apartamento é de vocês ou está alugando?

— Não, é aluguel. Meu pai pagou pelo semestre.

— Oh — fiz-me de surpreso —, tenho alguns apartamentos de aluguel, quando você for renovar, não esquece de ver comigo, às vezes tenho algum que te interesse, e posso reservar pra você.

— Isso seria legal — ela respondeu, mordendo os lábios. Ela sabia o que estava acontecendo e foi aí que eu desconfiei pela primeira vez que talvez ela não fosse exatamente a pessoa que tentava parecer ser.

Como eu já desconfiava, ela não demonstrou nenhuma reação mais séria quando viu a casa da minha mãe. Não se surpreendeu e nem se encantou como algumas outras meninas já haviam feito, afinal a casa, além de enorme e linda, ficava em um dos bairros mais caros da capital, e isso por si só costumava ser o suficiente para me manter no controle dessas relações.


       
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