Estrelas da Tarde



    Pág. 23 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

Mas com ela era diferente, a casa não parecia ser nada demais, e para ela certamente não era mesmo, com certeza já havia visto muita riqueza ao longo de sua vida, e talvez nem conseguisse vislumbrar uma realidade que pudesse ser diferente daquele mundo de privilégios e proteções que tinha.

— Eu venho todos os dias — me antecipei, assim que ela parou o carro em frente da casa. Não queria correr o risco de ela se convidar para entrar, pois sabia que seria bem difícil manter minha mãe sem revelar, até sem querer, minha real situação de estudante. Eu sei que isso era ridículo, eu ter de me esconder por algo que era nada além do que natural, mas eu aprendi ao longo da minha vida que as pessoas, por mais que possam num primeiro momento não parecer, são cruéis em seus julgamentos —, minha mãe já tá bem velhinha, e eu gosto de conferir se ela tá tomando os remédios direito — eu sabia que essa desculpa seria suficiente para fazer com que ela declinasse de possivelmente querer conhecer a velha, primeiro pela repulsa natural que qualquer jovem, como nós, sentimos ao ver a velhice, e depois porque isso me colocaria, aos olhos dela, como alguém abnegado e totalmente dedicado à família, mulheres gostam disso...

— Meu Deus — ela disse, certamente encenando algum tipo de pena que ela sabia que seria correto demonstrar —, mas não fica ninguém tomando conta dela?

A pergunta dela evidenciava uma pequena falha na minha história, porque é óbvio que para ela seria extremamente natural que um velho, enfermo e rico, teria certamente algum empregado para tomar conta. Mas não poderíamos pagar por uma empregada, mal tínhamos condições de bancar a diarista que vinha limpar a casa duas vezes na semana. Bom, e também porque minha mãe, de verdade, não precisava de uma cuidadora em tempo integral.

— Gosto de fazer isso eu mesmo — respondi depressa, enquanto me esforçava para deixar o carro antes que minha mãe pudesse sair para ver do que se tratava, visto que sabia que eu não tinha carro e era, literalmente,


       
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