fissurada em me ver engatando algum romance sério. A situação a esse
respeito era tão séria que vira e meche ela tentava me arrumar alguma
pretendente, a última havia sido uma mulher com quase trinta e cinco anos,
uma senhora! Divorciada e com dois filhos, que eu fui obrigado a levar para
jantar, devido a insistência implacável de minha mãe.
— Acho fofo — ela disse. — Quantos anos ela tem?
Eu não sabia direito qual era a idade da minha mãe. No geral não
pensava muito nisso:
— Sessenta e nove — respondi sem nenhuma certeza, mais porque
precisava responder alguma coisa.
— Meu avô tem noventa — ela continuava com aquele papo, era nítido
que ela pretendia conduzir aquela conversa até um convite para entrar. — Mas
tá bem fraquinho. Precisa ficar dois enfermeiros com ele, o tempo todo. Ele era
maestro... — ela sorriu e baixou os olhos, meio envergonhada — foi violista
como você...
— Como sabe que toco violino — perguntei. Não havíamos conversado
sobre isso.
Ela apontou para meu estojo.
— Hum — sorri, saindo do carro. — Eu não demoro.
— Tá bom — ouvi-a dizer, quase que imperceptivelmente. Com toda
certeza havia ficado chateada de não ter conseguido entrar em minha casa.
Aquele não era o horário que eu costumava chegar em casa, e por
esse motivo entrei da maneira menos espalhafatosa que consegui, nas pontas
dos dedos.