Estrelas da Tarde



    Pág. 24 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

fissurada em me ver engatando algum romance sério. A situação a esse respeito era tão séria que vira e meche ela tentava me arrumar alguma pretendente, a última havia sido uma mulher com quase trinta e cinco anos, uma senhora! Divorciada e com dois filhos, que eu fui obrigado a levar para jantar, devido a insistência implacável de minha mãe.

— Acho fofo — ela disse. — Quantos anos ela tem?

Eu não sabia direito qual era a idade da minha mãe. No geral não pensava muito nisso:

— Sessenta e nove — respondi sem nenhuma certeza, mais porque precisava responder alguma coisa.

— Meu avô tem noventa — ela continuava com aquele papo, era nítido que ela pretendia conduzir aquela conversa até um convite para entrar. — Mas tá bem fraquinho. Precisa ficar dois enfermeiros com ele, o tempo todo. Ele era maestro... — ela sorriu e baixou os olhos, meio envergonhada — foi violista como você...

— Como sabe que toco violino — perguntei. Não havíamos conversado sobre isso.

Ela apontou para meu estojo.

— Hum — sorri, saindo do carro. — Eu não demoro.

— Tá bom — ouvi-a dizer, quase que imperceptivelmente. Com toda certeza havia ficado chateada de não ter conseguido entrar em minha casa.

Aquele não era o horário que eu costumava chegar em casa, e por esse motivo entrei da maneira menos espalhafatosa que consegui, nas pontas dos dedos.


       
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