Estrelas da Tarde



    Pág. 25 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

Procurei pela chave do apartamento, mas não encontrei no lugar onde comumente guardamos as chaves. Eu teria de procurar no quarto dela e não tinha jeito de não chamar a atenção da minha mãe.

— Mãe — chamei ao entrar no quarto dela. Nesse horário ela costumava tirar um cochilo.

— Oi, meu anjo — ela me respondeu da mesma maneira de sempre, o que me irritava profundamente. Por mais que os anos passassem, ela insistia em me tratar como uma criança. Nunca foi capaz de me tratar ou de me enxergar como o que eu era, um homem com necessidades, e que precisava de muito mais coisa do que ela estava disposta a me oferecer como seu filhinho, como sua criancinha.

— Você sabe da chave do apartamento do Eustáquio? — fui logo perguntando, na esperança de que ela não me enchesse de perguntas, mesmo sabendo que para seu espírito xereta isso seria impossível.

— Pra quê você quer a chave? — ela tinha que perguntar...

— Recebi uma ligação do síndico — respondi a primeira coisa que me veio à mente —, ele disse que estava sentindo um cheiro estranho de gás, e talvez fosse do apartamento. Me pediu para averiguar. Preciso das chaves.

— Nossa! — Ela se levantou meio apressada. — Mas o Jonas não me falou nada. Vou ligar pra ele — ela já foi logo pegando o maldito celular. Eu precisava manter a calma e com um sorriso no rosto pus a mão sobre a mão dela no celular, em cima do criado mudo.

— Não, mãezinha, deixa que eu cuido disso. É coisa boba, e fui eu que pedi pro Jonas ligar pra mim quando acontecesse alguma coisa. A senhora precisa descansar. Deixa que eu tomo conta de tudo.

Ela pareceu se agradar muito com o que eu disse. Sempre quis que eu olhasse mais diretamente essas questões, em especial depois que eu tive de abrir mão dos meus apartamentos e passei a dividir os que haviam sobrado


       
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