Estrelas da Tarde



    Pág. 26 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

para ela. Pegou as chaves que mantinha dentro da gaveta do criado mudo com um sorriso de satisfação no rosto.

— Ah, meu filho — começou a falar, enquanto retornava para a cama —, eu estou tão orgulhosa de você. Em breve vai se formar, e vai poder administrar os aluguéis. Como tá aquela vaga de professor auxiliar que você tanto fala?

— Não saiu do lugar, mãe. Mas antes preciso me formar.

— Está certo. A gente não pode passar o carro na frente dos bois, não é mesmo?

— Isso. Carros e bois. Agora dorme e deixa tudo comigo...

— Quem falava muito isso era seu pai — como sempre ela queria conversar. Se sentia solitária, e mesmo assim se recusava a aceitar a casa de repouso. Minha irmã chegou a comprar para ela um celular novo, só para que elas pudessem se falar quando sentissem vontade. Mas como sempre, quando minha mãe trocou o celular novo dela comigo, porque o meu já estava em estado de morte, foi mais um motivo para uma briga. Para minha irmã e aquele marido dela, tudo relativo a mim é motivo de briga, de desavença... É como se para aqueles dois eu não tivesse direito a nada. Como seu eu tivesse de viver apenas com as piores coisas, à pão e água.

— Mãe, eu tenho que ir. Vou olhar essa coisa rapidinho e depois ainda tenho ensaio.

— Tudo bem, amor. Não esquece de olhar aquele emprego na imobiliária que sua irmã arrumou para você. Eles estão precisando de alguém com o seu perfil...

— Eu vou trabalhar numa imobiliária, mãe?! Tá maluca? Não. A Ingrid só quer fazer isso para me humilhar. Não. Por mim ela e aquele marido dela podem ir se lascar! Eu tô quase concluindo o curso. Vou ser é professor!


       
Início     ESTRELAS DA TARDE     Final       Pág. 26



Rodapé - Alexandre Campanha - TDAH e Autismo em Cordel