Estrelas da Tarde



    Pág. 28 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

CAPÍTULO — 3 —

Quando chegamos ao apartamento, que não era dos melhores, visto que ficava mais no centro da cidade, nitidamente numa região de classe média baixa, tive que manter a calma num primeiro momento, porque deveria, e eu sabia bem disso, conduzir as coisas de maneira que morar naquele lugar fosse compreendido como sendo uma escolha, como uma idiossincrasia peculiar.

— Eu não pretendo ficar aqui por muito tempo — eu disse, enquanto o carro se aproximava do prédio. Eu nunca tinha ido ao apartamento. Nunca tinha tido motivos e de qualquer forma, já sabia como deveria ser, provavelmente um lugar muito apertado, cheio de mobílias confusas, que misturam estilos diferentes e épocas diferentes, isso porque os mais pobres costumam acumular as coisas que vão comprando e ganhando ao longo de suas vidas, e nunca renovam nada, até porque lhes seria impossível fazer, já que isso no geral é muito caro.

Eu precisaria ser muito esperto para fazer com que ela achasse charmoso eu, no auge de minha carreira como professor, morar numa área tão aquém de mim, mas só então me atinei que havia nessa situação uma complicação mais urgente: e se ela entrasse?

Eu até tinha pensado nisso, mas então me ocorreu que, além de estar à mercê de um possível e bem provável mal gosto, também era possível que houvesse no apartamento... Oh Deus, como essa gente vulgar gosta de guardar lembranças e recordações!

O apartamento poderia, e de certo estaria, cheio de fotografias, e obviamente nenhuma delas teria a mim como figura central.


       
Início     ESTRELAS DA TARDE     Final       Pág. 28



Rodapé - Alexandre Campanha - TDAH e Autismo em Cordel