Estrelas da Tarde



    Pág. 32 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

mérito pessoal que conta na vida, tudo que for além disso, é um mimimi ideológico, que não serve para nada. “Sun cuique”, pensei, a cada um aquilo que lhe é de direito.

A sociedade só funcionará se as pessoas certas ocuparem os lugares certos. Por isso sempre fui aristocrático, ora, se alguém nasce filho de pedreiro, então que pedreiro seja, mas se alguém nasce com habilidades e conhecimentos superiores, como eu, que ainda por cima nasci em uma família de posses, deve por óbvio, pelo bem da comunidade, galgar aos postos de liderança e comando.

A Democracia corrompe o espírito dos homens. Os torna moles.

Contei de cabeça, sempre tive uma proverbial memória, o quanto de dinheiro vivo eu tinha na carteira, pouco mais de cinquenta reais, não dava para dois almoçarem.

— Quer saber — eu disse, assim que passamos por um pequeno boteco, de frente a uma praça muito bem arborizada. O lugar não chegava a ser repulsivo, mas o que mais me chamou a atenção foi a plaqueta em frente da porta que anunciava o tropeiro completo por doze reais. “Porra! Pensei, dá pros dois comerem e ainda vai sobrar uma micha”. — Por que não fazemos uma coisa diferente hoje? Gosta de tropeiro?

— Hum... — ela respondeu com uma careta.

— Ah, que isso... — eu ria. — Você tem que se permitir viver um pouco, às vezes você gosta.

— Eu já comi tropeiro, eu só não gosto muito — ela respondeu, e então, me veio o primeiro dos golpes, frios e contundentes que ela me daria —, se o problema for dinheiro eu pago.

Sim, ela disse aquilo. Nitidamente havia conseguido depreender de alguma coisa, não sei, talvez um sinal errado que eu tenha dado. Tive de


       
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