desviar os olhos para fora do carro para não chorar, estava eu, justo eu, a ser tratado como um homem inferior, abaixo do que eu era.

Ela ficou em silêncio, continuou dirigindo na direção que eu havia indicado anteriormente para o restaurante.

O golpe sofrido havia sido forte, e eu ainda mal tinha me recuperado do baque quando então, decidi tenazmente a reorganizar-me. E talvez, mostrar certa fraqueza, por mais que fosse um simples fingimento, talvez, e só talvez, se bem feito, fosse capaz de criar nela um sentimento de acolhimento e até de cumplicidade para comigo, porque me retiraria do pedestal que ela seguramente já me colocara, e ela poderia me ver com um humano normal, semelhante a ela, e por isso mesmo acessível.

— É, bem — eu ri —, eu estou meio desprevenido hoje mesmo. É que só lembrei agora, e... Bom... Eu não queria que você soubesse...

— Ah, quê isso — ela reagiu com um sorriso, mas eu tenho certeza que neste momento, perdi alguns pontos com ela, ao menos dentro daquele imaginário de força que eu estava, até então, tão formidavelmente construindo. — Eu vira e mexe fico sem dinheiro também. É normal. E você ainda tá no início da carreira e... — eu a fuzilei com os olhos, ao ponto de fazê-la mudar o que diria — digo — ela continuou, nitidamente se rendendo ao meu forte olhar —, pela sua idade, já tem seu próprio apartamento e tal... É difícil conquistar as coisas.

— Oh! Nem me fala! — eu disse, sorrindo. Com certeza havia conseguido disfarçar e ela acreditava em tudo. Não eram mentiras, era apenas uma verdade contada antes que tivesse acontecido. Eu certamente me tornaria um professor, e com toda certeza, não seria algo tão difícil, há uma hiper valorização nisso, com certeza construiria um patrimônio enorme, ao menos condigno com meu intelecto e habilidades, então, na verdade estava sendo bem mais que sincero, muito mais sincero que qualquer mulher mereça receber de informação.

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