Estrelas da Tarde



    Pág. 36 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

— Você demorou — eu disse amorosamente, acariciando aquela linda face, com aqueles olhos verdes, enormes, me fitando de forma confusa. Era óbvio que ela, por mais que também estivesse nas nuvens, não conseguira compreender com exatidão o que estava acontecendo naquele quarto, um reencontro de almas destinadas a partilhar a eternidade. — Minha vida começa agora — eu completei.

Queria que ela soubesse também o que eu já sabia. Queria oferecer a ela a possibilidade de sentir o que eu estava sentindo, por mais que eu tivesse certeza que ela não possuía ainda as habilidades necessárias para esse tipo de compreensão, mas afinal, não é justamente para isso que serve um homem na vida de uma mulher? Guiar e educar em seu caminho e aprendizado?

Caberia a mim, como o homem, ser o professor e ensinar com paciência, ao mesmo tempo em que mostrava a ela todas as maravilhas que eu havia descoberto com meus conhecimentos. Também aqui, e até mesmo na vida privada, minha aptidão como professor teimava em surgir, mais alta e mais forte do que tudo que antes já houvera sido criado pelo gênero humano. É a isso que chamam de Dom, ou de Chamado.

— Vamos comer alguma coisa? — eu perguntei enquanto me levantava e, antes mesmo de sua resposta, já ia na direção da cozinha. Não sabia cozinhar, mais por pressão da minha mãe, que nunca teve paciência em me ensinar do que por não ter, também nisso, um certo talento reprimido. Eu queria mostrar tudo a ela. Todo o meu ser, sem nenhum tipo de máscara que disfarçava toda a minha genialidade e talentos variados.

Para ela, e só para ela, eu estava disposto a deixar-me ver, tal como sou, em toda minha grandeza futura. E o fazia até mesmo como uma espécie de presente, posto que muito provavelmente, só o fato de me ver a mim como eu era na essência já fosse suficiente para que ela desabrochasse.

Obviamente ignorei o sutil convite que ela havia feito para que eu fosse embora, e na verdade, sabia bem qual era o motivo: mulheres são muito


       
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