Estrelas da Tarde



    Pág. 38 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

Confesso que o estado em que encontrei sua cozinha, que era pequena, aliás, o apartamento era bem inferior àquilo que ela tanto se jactara, quase esfregando na minha cara que era mais rica que a minha família. Oh, por Deus! O apartamento era minúsculo. Muito inferior ao que eu alugava para o Eustáquio.

Mas ainda por cima, a higiene, e isso era algo que eu teria de remediar fortemente, caso eu decidisse levar essa relação para algum lugar mais sério, ah, leitor, não me entenda mal, de fato havia sentido algo muito além do corpo físico, transcendente, no entanto, nenhum homem deve tolerar viver com uma mulher que negligencia das tarefas femininas.

Compreendi perfeitamente que, neste caso, deveria dar um desconto, já que ela, afinal, morava sozinha, e por experiência própria, apesar de minha mãe ter sido a vida toda uma excelente dona de casa, quando a figura do homem não está presente, é natural que a mulher se desleixe um pouco, em especial com os cuidados da casa, justamente por não ter alguém para o qual manter o ambiente limpo e saudável, como um marido ou filho.

A perdoei pelo desleixo, mas a cozinha estava em estado de miséria. Havia vasilhas na pia, alguma delas que, pela aparência, deviam ter sido usadas há alguns dias, ou seja, muito provavelmente, ao invés de lavar assim que usava, ela ia simplesmente amontoando as sujas e pegando as novas.

“Quem, com a grana que ela finge ter não tem no próprio apartamento uma lava louças?” pensei comigo.

Minha aventura com ela, e eu via bem isso, já estava à beira da primeira grande dificuldade para continuarmos juntos. Suspirei, tentando manter a calma e avaliar os sacrifícios que eu teria de fazer em nome daquele amor. A pérola perfeita que eu encontrara, não era tão perfeita assim, e olha que já era a segunda colher de chá que eu lhe dava.


       
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