Estrelas da Tarde



    Pág. 44 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

herança que eu teria de superar. Mas nem adiantaria, eu não era o melhor adversário para ele, minha vida até ali tinha me dado uma força de vontade e resiliência que esses meninos não possuem. Seria fácil vencê-los todos.

Ignorando-os com um belo sorriso, fiz uma mesura de cabeça e saí andando pela copa. Diversas crianças corriam para lá e para cá dentro da casa, “seguramente precisam de uma mão forte”, pensei enquanto averiguava com curiosidade a velha mobília da casa, de braços cruzados, como um bom entendedor de arte deve fazer.

Quando num momento me vi sozinho, me senti a vontade para, pelo extenso corredor, ganhar os quartos, a maioria com as portas fechadas, até que cheguei ao último quarto do lado esquerdo, e como havia corretamente suposto, era o quarto do avô dela.

— Ah, o senhor deve ser o violinista — disse, oferecendo minha mão em cumprimento e adentrando, afinal, eu já era da família e aprendi que a força deve ser evidenciada desde o primeiro instante.

O velho, sentado numa cadeira de rodas me olhou desconfiado, mas aceitou a mão em cumprimento.

— Quem é você? — Perguntou.

— Sou o namorado da Débora — respondi logo. — Também toco violino — dei ao velho o meu melhor sorriso.

— Hum, estuda com ela? — não sei porque ele perguntou isso, é claro que ela não havia tido tempo para contar que eu era um dos professores do conservatório, mas por que ele poderia supor que eu fosse um aluno igual a ela?

— Ah — sorri —, não. Sou um dos professores.

— Não — o velho disse, sem mover um único músculo daquela cara macilenta. — Não, não é.


       
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