Estrelas da Tarde



    Pág. 46 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

— Eu não sei... — ouvi-a de repente cochichar dentro de um dos cômodos, parecia que conversava ainda com a mãe.

— O diretor disse que não tem nenhum professor com esse nome — ouvi a mãe dizer e neste momento senti que o chão desaparecia, e que eu mesmo entrava para dentro de mim, como num profundo e quase inconsciente estado de vertigem.

Tudo estava perdido, senti. Mas imediatamente me recompus, decerto a mentira que eu contara estava a ser revelada, com certeza a mãe ligou para algum conhecido no conservatório para pedir informações sobre mim. Mas por que Débora iria permitir isso? Por que ela estava a me trair daquela maneira? “Oh, seguramente tem medo dos pais”. Eu tinha de ser forte e em momento de grave crise, quando uma batalha está prestes a ser perdida, o melhor a se fazer é atacar, entrei pelo quarto.

— Precisamos conversar — disse para Débora ao entrar, surpreendendo a todos. Lá estavam o pai, a mãe, uma irmã e um irmão.

Todos me olharam, mas eu me mantinha firme, embora suasse, de pé, olhando apenas para Débora. Queria que ela pudesse ter certeza pela minha atitude de que tudo que me importava ali era ela. Se eu pudesse, mas para isso precisava que estivesse sozinha, teria dito que não me importava com a herança que iria receber, e nem mesmo com a fortuna que ela poderia ganhar de dote, nada daquilo me importava, só ela, só o seu amor.

E de resto, o que me importava era vencer essa primeira batalha, depois que o avô morresse... Bem... é para isso que servem os advogados. Mas nem pensei nisso naquele momento, meus olhos não podiam transparecer um único lampejo de dúvida ou de interesse. Me mantive firme, coluna ereta e feição grave.

— Eu... — ela gaguejou, com seus olhinhos confusos, nitidamente com medo da pressão que a família fazia sobre ela —, eu, eu quero que você vá embora.


       
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