Estrelas da Tarde



    Pág. 48 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

— Eu vim com ela, volto com ela — disse, de forma irresoluta.

— Vai voltar andando ou carregado! — O irmão dela avançou contra mim, já com os punhos fechados, mas foi detido pela mãe, e assim mesmo eu me mantive firme em minha decisão, precisava mostrar para Débora a força de minhas palavras e de minha decisão.

— Nem professor você é! — A irmã dela gritou. — É a merda de um maluco — a mulher, mais velha que Débora, tinha a educação de um jumento, e me olhava com raiva e desprezo, tive vontade de esmurrar-lhe a face. — Quem caralho é você? Que tipo de maluco? É pelo menos aluno do conservatório?

Eu não respondi, não admitiria ser tratado daquela forma, muito menos por uma mulher, ainda mais uma na casa dos quarenta. Há! Uma quarentona querendo me pagar lição de moral? Não responderia, e não respondi, ao invés disso sorri, mantendo meus olhos fixamente em Débora, que se mantinha meio escondida atrás da mãe, coitadinha, com certeza havia planejado em sua cabeça uma outra recepção ao namorado.

Pensava no que ela deveria estar sentindo a respeito de sua patética família, e sentia ao mesmo tempo pena e uma profunda empatia, pois também eu houvera vindo de um lar disfuncional, mas eu já tinha conseguido exorcizar meus demônios e ela, ainda se mantinha na dependência do que os medíocres esperavam ou pretendiam da vida dela, ainda não tinha conseguido reunir forças suficientes para se libertar.

— Pelo menos me deixa na rodoviária — eu pedi, diretamente para Débora, que olhou imediatamente para o pai, que bufou e sacudiu a cabeça.

— Tudo bem — foi o pai quem respondeu. Meu Deus! Nem mesmo direito à própria voz ela tinha quando estava perto daquelas pessoas. Não pude, e não posso agora, ignorar, nem mesmo disfarçar minha decepção latente pela fraqueza dela. Sim, sim, eu sei, não dá para esperar que uma


       
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