Estrelas da Tarde



    Pág. 5 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

Mas também não era velho, não ao ponto de ter deixado meus sonhos e buscas para o passado, num sentimento que nos invade ao avançar da idade, que é muito parecido com as cores reais da vida humana. Não tinha ainda desistido ou nem mesmo compreendido talvez, que as coisas são o que são, e muito raramente podemos fazer algo a esse respeito.

A maior dificuldade do jovem, penso eu, seja justamente o saber quando não resta mais nada a ser feito. Insistimos, e a insistência, não raro, é capaz de nos quebrar.

Não sei se já estou quebrado, ou se apenas a real cor das coisas finalmente está a me machucar nos olhos, na visão, mais especificamente. Ou ainda na coragem dos ossos, nos ímpetos da matéria viva.

Aquela era uma manhã como outra qualquer. Há muito tempo eu me acostumara a uma rotina que, a bem da verdade, não havia sido a que eu houvera antes, na juventude, imaginado viver quando chegasse na casa dos trinta anos.

Talvez eu tenha perdido algum tempo me dedicando a coisas que não eram exatamente prodigiosas, ou então que não me levassem a algum lugar de vitória, sucesso ou conquista, mas o certo é que aos trinta anos eu ainda não havia conseguido me estabelecer em alguma carreira e nem mesmo os estudos estavam avançados.

Havia ao dezessete abandonado o ensino regular, para me dedicar exclusivamente a carreira de musicista. Levava na decisão o exemplo de muitos antigos mestres que, abandonando a regularidade do ensino, haviam se dedicado com exclusividade a dar vasão a seus talentos.

Ora, o talento, quando deixado a própria conta, esgarça-se. Atrofia, e eu sentia isso. Por que me dedicaria às matemáticas e filosofias sendo que meu real e verdadeiro talento, aquilo para o qual eu de fato nasci para fazer, era a música?

Não fazia sentido para mim, então saí, sem olhar para trás. É claro que meus pais, à época meu pai ainda estava vivo... Eles não gostaram muito da


       
Início     ESTRELAS DA TARDE     Final       Pág. 5



Rodapé - Alexandre Campanha - TDAH e Autismo em Cordel