Estrelas da Tarde



    Pág. 9 - ESTRELAS DA TARDE
      Alexandre Campanha e Roberto Prado

Mas nunca quis dar o meu braço a torcer, para nenhuma situação de adversidade, e hoje percebo que neste aspecto minha mãe tinha razão quando falava que eles não eram meus amigos. Queriam me cobrar pelo pouco que haviam feito, e agora pareciam exigir que eu arcasse com a maior parte, só porque tinha grana.

“Dinheiro não cai do céu não, malandro” foi o que eu disse para eles todos, pouco antes de sair da banda.

Mas também, eu já não gostava mais de tocar baixo, e nem gostava mais de rock. Estava encantado nessa época por música clássica. Eu sempre gostei, mas agora estava verdadeiramente apaixonado, e ainda mais quando, numa tentativa patética de conquistar minha atenção, o marido da minha irmã me presenteou com um violino. Eu gostei do presente, é claro, mas não deixei de reconhecer aquele gesto como de fato ele era: uma maneira de tentar agradar a minha mãe.

Sobre a velha, bom, depois que meu pai morreu e minha irmã se casou, ficamos só eu e ela. Nós dois contra o mundo, um órfão e uma viúva. Foi bem difícil.

Coube a mim, como o filho mais velho, cuidar de tudo. Minha irmã não queria saber de muita coisa, mas aí eu nem a culpo, ela estava construindo a própria família e não podia ajudar na administração dos bens que sobraram para mim e para mim mãe. Eu tive que fazer tudo sozinho.

E o que as pessoas não falam, é que não é nada fácil administrar bens e imóveis, tem sempre muita coisa para olhar, reformas e problemas burocráticos, esse é um problema que poucas pessoas falam sobre as dificuldades de se empreender nesse país... O estado parece ser inimigo das pessoas que trabalham, e isso é um absurdo.

Foi nessa época que eu, conseguindo enxergar os problemas que assolavam nossa política, decidi que era hora de entrar para o universo político, e surpreendentemente, minha mãe não só aprovou a ideia, como conseguiu com alguns antigos amigos de sua época de escola, ela havia sido


       
Início     ESTRELAS DA TARDE     Final       Pág. 9



Rodapé - Alexandre Campanha - TDAH e Autismo em Cordel